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Nos dias 25, 26 e 27 de março de 1922, grupos admiradores da Revolução Russa (1917), entre eles sindicalistas, profissionais liberais e livre pensadores, reuniram-se em Niterói para fundar o então denominado Partido Comunista do Brasil (com a sigla PCB). Tal encontro é considerado o primeiro congresso do partido. Na metade de 1924, o V Congresso da Internacional Comunista (ou III Internacional) admitiu a nossa organização partidária como sua seção brasileira oficial. Criava-se, assim, o mais antigo partido em funcionamento hoje no país e o primeiro partido de âmbito nacional do Brasil.

Umas das maiores dificuldades que o partido enfrentou foi, com certeza, os mais de 60 anos de ilegalidade forçada pelos mais diversos governos, mas, mesmo assim, esteve a frentes de inúmeras lutas importantes para o Brasil. Para relembrar, destaco a luta pela reforma agrária (primeiro partido a lançar manifesto), pela criação, manutenção e reforço de empresas estatais estratégicas como a Petrobras, Eletrobrás e Siderúrgica Nacional, entre outras. O partido participou ativamente da luta pela democracia e integrou as mais diversas Frentes Amplas pela defesa de um país democrático e justo. Na luta pela anistia, pela Diretas Já, nas várias Constituintes (partido participou ativamente da redação de das Constituições de 46 e 88), no Fora Collor, na luta contra o desmonte do Estado Nacional nos governos neoliberais, o partido sempre esteve  presente na organização do movimento sindical, de juventude, de mulheres, de negros e negras, da diversidade e demais movimentos sociais.

Em função deste grande período de ilegalidade, os primeiros diretórios estaduais e municipais surgem no bojo da redemocratização da década de 40, entre os anos de 1945 e 47, e assim também ocorreu no Paraná. Lembrar que estávamos no pós guerra e no período de redemocratização e da elaboração da Constituição de 1946. O Partido esteve no trabalho de elaboração da nova Constituição, com a participação do Senador Luís Carlos Prestes e mais 14 deputados entre os quais Carlos Marighela, Jorge Amado, Mauricio Grabois e João Amazonas. O partido teve cerca de 8,6 % dos votos válidos e era a quarta maior força política daquela assembleia constituinte. O partido elegeu bancadas na Bahia, Pernambuco, Distrito Federal, Rio de Janeiro (Guanabara), São Paulo e Rio Grande do Sul. No Paraná, nesta conjuntura, o partido elegeu um deputado estadual, José Rodrigues Ferreira Neto, e a primeira mulher vereadora em Curitiba e a primeira vereadora e parlamentar feminina do Paraná, Maria Olympia Carneiro Mochel.

O partido no Paraná, na fase entre 1922 e 1940, teve forte presença de sindicalistas, especialmente ligados ao sistema Ferroviário, no Porto de Paranaguá e Antonina, e em algumas atividades como sapateiros e gráficos. O partido era o centro da esperança da internacionalização da revolução Russa de 1917 e, assim, atraiu mulheres e homens com a vontade de construir um outro mundo. No caso do Paraná, tínhamos também descendentes de ex ativistas da Colônia Cecília, que existiu como experiência socialista inovadora no final do século XIX em Palmeira, contribuindo com o início da nossa organização.

O partido, entre 1937 e 1944, sofreu uma grande repressão, especialmente depois da conhecida como Intentona Comunista. O partido, em1943, foi reconstruído na Conferência da Mantiqueira e preparou os quadros para o período de redemocratização que o Brasil começava a passar. No Paraná, o partido se reconstruiu em torno do protagonismo de seu grande líder na época Luís Carlos Prestes e, ainda, de núcleos de pessoas do sindicalismo anteriormente construído, entre eles estavam os ferroviários.

O Partido Comunista do Brasil agremiou uma boa parcela de trabalhadores como os ferroviários e os estivadores, imprimindo uma forte coesão identitária de esquerda com características prioritariamente solidaristas e associativistas, geradas lentamente a partir das experiências vividas no mundo do trabalho e na organização operária.

A anistia em abril de 1945 e o novo código eleitoral de 28 de maio, decretados com o fim do Estado Novo, permitiram a legalização e o registro oficial do Partido Comunista do Brasil (PCB) após décadas de clandestinidade e proscrição. Com a abertura política, a diretiva dominante entre os comunistas consistiu na defesa da democracia pela ampliação da participação política popular e da eleição de uma Assembleia Nacional Constituinte.

Ponta Grossa, como maior entroncamento ferroviário do Sul do Brasil, teve uma participação importante da ferrovia e dos ferroviários no seu desenvolvimento enquanto centro urbano. Era constante a manifestação dos ferroviários nos jornais da época sobre os caminhos da política nacional, do estado e de Ponta Grossa. O protagonismo dos trabalhadores ferroviários na vida social, esportiva e política do município foi de extrema importância e foi deste agrupamento que vieram cerca de 20 operários que formarão o núcleo inicial do nosso primeiro Diretório Municipal do Partido na cidade.

Precisamos lembrar da contribuição de vários camaradas, como João Antunes de Oliveira, Dino Colli (hoje dá nome a uma organização da torcida do OFEC), Umberto Moro e dos ferroviários Miguel Pan e Manuel Mocelin, para que o partido chegasse a sua organização em 1945.

Em 20 de agosto de 1945, no dia da reunião inaugural do nosso Diretório Municipal, o fato mais lembrado nas falas dos camaradas foi o da prisão do casal Olga e Prestes, recordado inúmeras vezes nos discursos dos comunistas ponta-grossenses. O martírio e a redenção de Prestes não foi menos exaltado, tanto que, o dia de sua libertação, 18 de abril de 1945, se transformou em uma data para ser relembrada e comemorada e, principalmente, para fazer denúncias aos cárceres autoritários do Estado Novo.  A reunião foi acompanhada pelo importante quadro dos comunistas paranaenses Julio Manfredini que coube, em nome do futuro Diretório Estadual, na pessoa de Walfrido Soares de Oliveira, futuro Secretário Geral do Partido no Paraná, dar posse a nova organização partidária que já começava com duas Organizações de Base, uma entre os ferroviários e outra dos profissionais liberais, chamada de Olga Benário Prestes.

Nestes 76 anos de vida, mesmo na clandestinidade, o PCdoB esteve presente na vida ponta-grossense. Sempre fomos ativos nos movimentos comunitários e sindicais, nos movimentos estudantis, e ajudamos na consolidação de Ponta Grossa como centro universitário e na ampliação da educação como direito fundamental de todos e todas. Através do movimento estudantil e comunitário veio nossa atuação dentro da luta do transporte coletivo da cidade que chegou até agora na nossa Organização de Base dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Transporte Coletivo. Muitas campanhas pela redução e melhoria do transporte público foram dirigidas pelo nosso partido.

Lembro que, neste período, no campo institucional, tivemos dois vereadores e uma vereadora. Elegemos um deputado federal que é, até hoje, o mais votado da história da cidade e estivemos presentes no governo Péricles de Holleben Mello na área da participação popular do orçamento participativo. Muitas lutas feitas, outras tantas a se fazer.

Nossa meta é a construção dos caminhos da equidade, e termino lembrando Olga Benário Prestes, saudada na nossa primeira reunião do diretório municipal, na sua carta de despedida a Luís Carlos Prestes,  no dia anterior a sua excussão num campo de concentração Nazista: “Lutei pelo Bom, pelo melhor e pelo justo do nosso povo”.

 

Elton Barz

Professor de História e Historiador, Presidente Estadual do PCdoB do Paraná